segunda-feira, 16 de junho de 2014

O Vermelho de Portugal

Eis que um mês e meio depois volto à escrita futebolística. Os meus últimos dois posts referiam-se à vitória do campeonato pelo Glorioso e à épica passagem do Benfica à Final da Liga Europa, anulando a equipa piemontesa no seu próprio estádio. O momento épico ficou-se por aí. Duas semanas depois, já com a Taça da liga ganha, o fantasma do raio do húngaro mostrou-se bem vivo. Desde então, e já com os fantasmas de 2013 completamente sandaos, um triplete ganho após a vitória na Taça (finalmente Jesus matou esse borrego), não havia para mim muito mais a escrever sobre o Benfica. O que tinha a dizer foi tudo dito no post de 22 de abril, que faz um apanhado das emoções das duas épocas que abrangem este blogue. Assim sendo, meti umas férias no blogue.

Mas este é um ano de mundial e apesar do vermelho que me move no dia-a-dia ser sediado ali no Estádio da Luz, os jogos da seleção sempre tiveram para mim uma carga emocional grande. Como todos os portugueses vivi intensamente o Europeu de 2004, o mundial de 2006 e o de 2010 e ainda está atravessada na garganta aquela derrota nos penalties na meia final contra o futebol de merda da espanha em 2012. É com um misto de arrepio e saudade difusa que me lembro do bigode do Chalana na campanha épica do Euro '84 e que me dá um assomo de desilusão quando me recordo do México 86. No entanto, os jogos que me marcam mais emocionalmente são mesmo o das meias finais com a França em 2000 e o épico jogo dos quartos der final com a Inglaterra em 2004.



Esse jogo, aliás, marca a única vez em que senti um descontrolo emocional que não se explica racionalmente e a única vez que chorei como uma menina por causa do futebol. O responsável? o maestro, o eterno vermelho Rui Costa. O vídeo fala por si, o relato imortal do Jorge Perestrelo, é causa sui:
Quando o Rui Costa a mete lá dentro dei por mim de joelhos a chorar como uma madalena a gritar descontroladamente o nome do Rui Costa.

Vamos por partes:

Ver um jogo do Benfica parte de uma emoção racional, se é que é possível descrevê-la assim. Parte de uma certeza que o Benfica é o maior, que o seu dever é ganhar e as vitórias do Benfica correspondem a uma expetativa. Ver or Benfica parte de uma relação de comércio existencial. O adepto investe emocionalmente e também monetariamente, se for sócio, na equipa durante os 10 meses da época e espera que a sua equipa corresponda a esse investimento. Por isso é que uma época  como a de 2013 deixa marcas profundas no adepto quando corre mal e limita-se a confirmar o investimento do adepto, quando tudo corre bem. O adepto fica satisfeito, escarnece dos seus adversários, usa o produto desse investimento na época seguinte e por aí adiante, contruindo em conjunto a grandeza do clube e reciprocamente da massa adepta. É um trabalho contínuo. É uma relação diária para a vida inteira.

Assistir a um jogo da Seleção nacional na fase final de um qualquer campeonato parte de um pressuposto completamente diferente. Ser de Portugal não exige investimento diário emocional. Nós não acompanhamos semanalmente a seleção e esta só joga a sério de dois em dois anos. Não temos de lidar com adeptos de clubes adversários diariamento, não temos de defender as vitórias dos nosso clube perante os outros nem justificar as derrotas ou cobrá-las perante nós.

Ao contrario de ser do Benfica, que é uma relação estável e duradoura, que se contrói ao longo de 30 jornadas durante um ano inteiro, ser da seleção é como uma paixão de verão ardente, que se esgota a cada jogo.

A emoção do jogo de hoje não depende de como está a equipa no campeonato, como é que a equipa vai gerir o resto da época ou que implicações para as provas do resto da época terá a performance de hoje. O jogo de hoje é o jogo de hoje. Durará apenas 90 minutos, reduz-se a si pópria, depende apenas de como irá o Ronaldo jogar, de como o Moutinho colocará a bola no Hugo Almeida, de como o Bruno Alves irá tirar a bola da cabeça de um alemão.
O jogo de hoje é o jogo de hoje. O jogo de hoje tem 90 minutos. O jogo de hoje não é sobre se somos a melhor equipa, se a época foi bem preparada, sobre se devia jogar A ou B. O jogo de hoje é sobre isto e apenas isto.
"VAMOS LÁ CARALHO E LIMPAR AQUELE SORRISO ARROGANTE DAS FUÇAS DOS FILHADAPUTA DOS BOCHES COM AS BOTAS DO RONALDO, FODA-SE"