quarta-feira, 15 de maio de 2013

Isto hoje é sobre nós!

Não vou escrever hoje sobre a torrente de emoções que passei no sábado passado. Da ilusão à queda na realidade, da frustração de uma época alimentada a esperança foi um sábado como não vivia há muito a ver a bola.

Acreditei até ao fim, embora não me surpreenda o desfecho. Morrer na praia é triste mas não é inédito e calha a todos. Foi a vez de sentirmos o balde de água fria assim como já tive na posição de vencedor aquando aquela gloriosa cabeçada do Luisão por cima dos bracinhos esvoaçantes como dois lençóis perdidos ao vento do Ricardo.

Embora de emoções muito fortes e desfecho emocionalmente violento, foi apenas mais um clássico. Foi apenas mais um campeonato, assim como muitos clássicos e campeonatos já passei desde que me lembro que sou do Benfica e inexoravelmente irei ver, viver, ganhar e perder enquanto o campeonato de futebol da primeira liga portuguesa existir.

Hoje no entanto é um sentimento diferente. o clássico de sábado foi apenas mais um clássico. Que pode valer um campeonato, assim como muitos puderam valer um campeonato nos últimos cinquenta anos.

O que eu não me lembro é do Benfica ter ganho uma final europeia. Lembro-me de ter visto duas e ter perdido. E é como se não me lembrasse pois já lá vão 23 anos, mais de metade da minha idade.

Por isso hoje o sentimento é diferente. Nada me move contra o Chelsea a não ser neste jogo específico. Não há uma rivalidade latente, uma emoção que agita as águas em permanência ao longo do ano inteiro.

O jogo de hoje não é sobre vencer o adversário direto, sobre hegemonia futebolística (pelo menos diretamente embora também o seja), sobre uma espécie de batalha constante sobre a prevalência do vermelho sobre o azul.

Não. O jogo de hoje não é acerca do outro no outro lado da barreira.


O jogo de hoje é só sobre nós. Sobre cada uma  das gerações de benfiquistas que sempre viveram à sombra da glória europeia que antes tiveram e só puderam contar em videos, fotos e memórias.

O jogo de hoje conta apenas connosco e com os 11 representantes do mote que nos une naquilo que merecemos executar a cada um dos dias que jogamos contra um adversário estrangeiro.

Et Pluribus Unum.

O jogo de hoje é sobre o Eusébio, o Torres, o Simões, o Chalana, o Zé Aguas e o seu filho, sobre o Toni, o Ricardo, o Mozer, o Veloso, o Bento, o Humberto Coelho, o Thern, o Magnusson, o Nuno Gomes, o Rui Costa, o Simão Sabrosa, todos aqueles que um dia envergaram de vermelho na Europa e pegaram numa bola e correram para a baliza e fizeram cada um dos outros milhões de benfiquistas gritar "GOLO!" num jogo europeu e esperançaram-nos de os ver levantar uma taça em direto para o mundo.

Este jogo é sobre aquele puto que num aula de filosofia da secundária no ido ano de 1994 escutava os gloriosos 4-4 de Leverkusen nos fones escondidos entre os cabelos compridos e sobre a colega do lado que nervosamente me ia pedindo as atualizações e saltou a correr assim que a aula acabou.

O jogo de hoje é sobre mim, sobre  a pessoa que conheci no estádio da Luz e hoje me faz feliz, sobre todos os que têm este bichinho na garganta que os faz gritar Benfica.

Isto hoje é só sobre nós e aquilo a que temos direito!

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