terça-feira, 22 de abril de 2014

A grandeza deste Clube

I Want it all
I want it all
I Want it all
And I want it now

Versava uma faixa do penúltimo álbum de estúdio dos seminais Queen já faz 25 anos.

Quando resolvi escrever este blogue, para além de pretender preencher uma lacuna de escriba cibernético (mandar bitaites sobre bola) tinha enraizado no subconsciente uma sensação que volta e meia subia a uma convicção consciente de que a época de 2012/2013 seria a época onde o Benfica mostraria finalmente a sua grandeza e acabaria com a hegemonia do Futebol Clube do Porto.

Foi com essa certeza mais ou menos desavergonhadamente assumida que comecei este blogue com o entusiasmo e a soberba própria do adepto do maior clube português. A época passada e as suas exibições fizeram-nos acreditar numa época de sonho e a esperança enraizou-se de tal modo que passou a certeza. No início de maio éramos líderes, finalistas de uma competição europeia, prestes a ganhar mais um ataça. A Grandeza do clube só podia produzir um sentimento. "Este ano queremos tudo e vamos consegui-lo."

Numa semana esse sentimento levou um pontapé nos dentes. Um pontapé colocado por um jogador obscuro, num fatídico minuto 92 no estádio do nosso maior adversário e que deixou marcas para a semana seguinte, de tal sorte que o abalo provocado impediu animicamente a equipa de recuperar e ganhar o que quer que fosse. Foi o maior balde de água fria que os adeptos do Benfica alguma vez levaram. Maior ainda que o balde de água fria do penalty falhado pelo Veloso em 89.

Maio de 2013 deu-nos acima de tudo uma grande lição de humildade e ensinou-nos que a grandeza faz-se também, para além da história e dos feitos, de reconhecer a fraqueza inerente às falhas, às lacunas, às más decisões ou simplesmente à má sorte. O Benfica, talvez como nunca na sua história, teve a consciência que não basta dizer que se é o maior porque ser o maior depende em muito de demonstrar que é o maior e essa demonstração depende de resultados.

Não me interpretem mal. Na vitória, e também na derrota, o Benfica foi, é e será sempre o maior. Porque o amor por um clube não depende exclusivamente das suas vitórias, que o digam os adeptos do Sporting ou até mesmo do Braga ou Guimarães, que têm das massas adeptas mais entusiastas do pobre panorama futebolístico deste pobre país. Mas é na execução da sua superioridade em campo que um clube demonstra a sua grandeza e, por mais que digamos que somos os maiores, temos de ter um caneco para o demonstrar.

Mas também não basta ter o caneco.O Porto o ano passado ganhou a única coisa que tinha para ganhar no fim de sua época arrastada a ilusões de futebol competente, sem saber como. Ganhou o campeonato na reta final, dependendo de um tropeço, de um golpe de sorte, de um capricho da Nike (a deusa, não a marca) e, ato contínuo, a certeza e a esperança, a alegria acumulada dos adeptos do Benfica que tinham tudo a ganhar, levaram um estalo que demorou um ano inteiro a recuperar.

Preferia ter ganho tudo o ano passado em vez deste ano? Preferia. Estava psicologicamente preparado para isso. As minhas expetativas e esperanças prepararam-se para ser campeão o ano passado e isso tornou-se um ato falhado. Esse ato falhado envenenou-me a alegria acumulada, fabricada, carinhosamente cultivada durante um ano, a partir das mais legítimas aspirações. Disso nunca irei recuperar.

Mas, por outro lado, foi um chamar à realidade, foi uma lição que a grandeza do clube também se faz de humildade e trabalho e que quando um clube cai não fica lá estendido. Foi uma lição que a derrota não é o fim, a derrota é apenas um momento passageiro e que na derrota também se arranjam ferramentas para elevar o espírito, a dignidade e a força de um clube.

Jorge Jesus também tem razão. Só as grandes equipas perdem tudo no fim porque só as grandes equipas estão até ao fim para poder ganhar ou perder. E se houve algo que nestes dois anos o Benfica demonstrou é que é uma grande equipa.

Esta época contive sempre o entusiasmo, em grande parte porque também não o conseguia recuperar mesmo que quisesse. E, apesar de não acreditar que fôssemos perder o campeonato duas vezes seguidas, o entusiasmo só regressou em pleno e aos níveis da época passada, na quarta-feira da semana que agora findou. A reviravolta épica sobre o Porto na Luz, para a meia-final da Taça de Portugal, com mais de uma hora a jogar com menos um, demonstrou que o ano passado o que aconteceu foi apenas um golpe fortuito, uma bênção divina, uma qualquer dívida antiga que o Porto deixou até ao fim para cobrar e meteu o requerimento na secretaria do Olimpo à última da hora. Este ano os deuses já não devem nada a Pinto da Costa e fez-se justiça. Essa vitória resumiu em 90 minutos a grandeza e a superioridade do Benfica nestes últimos dois anos.

Está bem que para a estatística e história o que fica são as vitórias do Porto, Braga, Chelsea e Guimarães no ano passado, mas só o Benfica em dois anos esteve sempre à beira de ganhar tudo o que tinha. Só o Benfica esteve sempre em todas as frentes durante dois anos seguidos até ao fim e se o ano passado tudo perdeu, este ano já tirámos um peso de cima. O Campeonato já cá canta. Essa alegria já ninguém nos tira. A partir daqui já só há coisas a ganhar. Quinta feira é a próxima etapa.A estatística, como sempre, far-se-á no fim da época. Para já só uma coisa é evidente. A grandeza deste clube.


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