quinta-feira, 18 de abril de 2013

Derby é Derby e.... vice-versa como diria o outro!

Pronto, chegou a altura da época em que tudo se resume a 3 ou 4 jogos e tudo fica decidido... e nada melhor do que começar com o derby!
Quer se queira, quer não, este é o jogo da nossa memória, da nossa infância, aquele que se prolonga durante dias a fios e se prepara com a mesma ansiedade de um encontro com uma miúda nova que queremos conquistar - ou na versão de alguns apenas dar uma volta no carrossel da fantasia...
Tenho a sorte e a virtude de ter grandes amigos sportinguistas e/ou lagartos, aliás caracterizam-se por serem até alguns dos mais importantes ou próximos... é óbvio que os benfiquistas e/ou lampiões têm a maioria e alguns idêntica importância, mas gosto muito dos meus amigos sportinguistas... mesmo quando distilam o ódio pelo meu clube, mesmo quando confessam que veêm primeiro os resultados do Benfica para saberem se perderam antes de verem que o Sporting venceu, mesmo quando nos atiram com um qualquer resultado do Futsal, Ténis de Mesa ou Corfebol ou mesmo quando insistem na delirante ignomínia dos 3000 e tal títulos incluindo as retumbantes vitórias ou 4º postos no Torneio Internacional de Freixo-de-Espada-à-Cinta em juvenis numa qualquer modalidade individual ou colectiva. Contudo, respeito-os e compreendo.
Extrapolando e armando-me ao pingarelho na antropologia desportiva, isto é quase como a história dos irmãos completamente diferentes, filhos da mesma cidade, opostos na educação, nas virtudes e nos defeitos, quase como se um fosse criado por um pai e outro criado pela mãe (chiça, confesso que me lembrei dos Portas...), um nado nas traseiras de uma farmácia, fundido na vontade e pobreza de um grupo de orfãos, que andou de campo em campo, que constrói um estádio pelas próprias mãos, outro nado para divertimento de um visconde, fundido no pressuposto de grandeza conferido pela nobreza e/ou burguesia, que sempre povou o mesmo sítio, e que curiosamente vê os papéis inverterem-se nos dias de hoje. Não nos enganemos, ambos têm um cariz popular, nacional mas os trejeitos e as mesmas características mantém-se lá.
Vi muitos derbys, alguns ao vivo, outros na tv, outros em relatos de domingo à tarde, e seria fácil falar-vos daqueles que me deixaram mais feliz, mas hoje apetece-me falar de dois que não vi, ou que só ouvi, mas que servem para mostrar que aprendemos mais quando não ganhamos, pois não imbuídos pela cegueira da glória, do que quando perdemos momentaneamente mas tornamo-nos melhores e mais sábios.

Primeiro, o derby das curvas de Nisa como sempre o recordarei... tinha 10 anos e regressava da terra das minhas raízes, apertado, debaixo de chuva imensa; após a passagem pelas Portas de Rodão com o resultado num empate de uma bola, a 50 km/h, enquanto se iniciavam as curvas da serra (cerca de 100 até chegar a Nisa...) e até ao seu término ouvi a derrota copiosa num estertor de golos atrás de golos da equipa listada. Não me envergonhei, no fim continuávamos em primeiro, e recordo esse momento com o sorriso trocista de criança. Todos parecem esquecer que nas 7 jornadas seguintes, vencemos 7 vezes enquanto os adversários listados perderam 3 e empataram 4 jogos. Foi a última vez que o Benfica conquistou a dobradinha, tal como desejo que - pelo menos isso - consiga nesta época. É o que recordo da época 1985/1986 e glorifico, outros fazem musicais com o célebre 7-1. Nunca a frase podes perder uma batalha, mas vencerás a guerra fez tanto sentido.

Segundo, o derby do teletexto... ausente do país por motivos familiares e de festa, na época em que a lagartagem voltou a respirar e a ser campeã - merecidamente - também o "meu" Benfica estava ausente em parte incerta, quase destruído pelo burlão, preparava-se a festa monumental do último jogo no estádio dos concertos e que melhor convidado do que o grande rival. Antes de viajar lembro-me de ver num pasquim qualquer que até os cabeçudos de Torres iriam desfilar na saudosa pista do grande Moniz Pereira como prelúdio para os "cabeçudos" vermelhos que viriam a seguir. Para mim não era uma dor que ganhassem, mas seria uma dor se não tivéssemos orgulho. Rodeado, a uma distância imensa, de sportinguistas, sem acesso a qualquer outra informação que não fosse, na altura, o simples teletexto de uma qualquer tv alemã, desesperava-se pelo nulo quase até ao fim. Desisti, não queria saber, mais uma bier e whatever... até que ao minuto 86', lá apareceu 0-1 Sabry... e quando passou a verde, sorri! Sorri pelo orgulho e por termos mostrado que ainda haveria uma réstea de esperança para que nos erguessemos novamente.  "Vocês são o pior que pode haver, nunca se deixam comer, raios parta...." disse-me um grande sportinguista. Eu sorri, mais uma vez, com orgulho.
Também esta mensagem serve para nós no Domingo, nunca subestimem um adversário por mais fraco que este possa parecer. Principalmente quando o mesmo aparece ferido.

Histórias, estórias, mas domingo quando começar, será sempre o mesmo jogo na rua, lampiões para um lado, lagartos para o outro, balizas de 1 passo e sorrir, gritar, chutar, praguejar, beber, e comungar das nossas diferenças. Exultem-se as hostes, aí vem o derby.
Eu gostava que fosse assim, simples e mágico:



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